Três décadas de transformação: a evolução do Brasil e seu impacto no mercado de reposição automotiva

Por Danilo Fraga, da Fraga Inteligência Automotiva

Nos últimos trinta anos vivenciamos mudanças estruturais significativas na economia política do Brasil, começando pela facilitação das importações em 1990 e seguindo com o Plano Real de 1994. O país transformou-se profundamente, e o mercado de reposição acompanhou essa evolução. Nesta edição, encerramos a série de três artigos destacando algumas das mudanças mais notáveis na indústria automobilística, que certamente impactaram o mercado de reposição de autopeças até os dias de hoje. Esta retrospectiva não é meramente um exercício de nostalgia, mas também uma justa homenagem da Fraga Inteligência Automotiva ao trigésimo aniversário da Novomeio Hub de Mídia e do Novo Varejo Automotivo.

 DE 2014 AOS DIAS ATUAIS

Num contexto de grande insegurança econômica e baixa previsibilidade, entramos em 2014, ano que, apesar das graves desconfianças e incertezas, também trouxe momentos históricos como a realização de eventos globais como a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil. A crise política e a recessão econômica foram gradualmente arrefecendo, e apesar de não termos recuperado a pujança de outrora, o Brasil superou grandes desafios estruturais neste período, com diversas reformas que trouxeram avanços em temas centrais como a insegurança jurídica e o planejamento econômico.

A retomada do crescimento, embora em patamares inferiores, foi caracterizada por um fenômeno complexo: a diversificação das preferências dos consumidores. Ao contrário dos períodos anteriores, eles começaram a conviver com uma ampla gama de possibilidades de veículos. As montadoras chinesas deram seus primeiros passos para se firmar no mercado brasileiro, e os veículos asiáticos ganharam grande popularidade entre os consumidores, com modelos como o HB20, Nissan March e Toyota Etios disputando a preferência dos brasileiros e ganhando espaço significativo no mercado nacional. Além dos veículos asiáticos, diversos projetos de SUVs compactos começaram a chamar a atenção do mercado, estabelecendo uma forte tendência de compra, que só não foi maior devido à pandemia da Covid-19.

Os efeitos da pandemia serão permanentemente lembrados, porém, apesar dos desafios, o mercado de reposição se destacou mais uma vez por sua resiliência anticrise. Entre os diversos setores afetados, o aftermarket se mostrou um dos menos impactados na economia, evidenciando sua robustez diante de adversidades.

Esta década também foi marcante pelo forte crescimento das iniciativas digitais no segmento da reposição e pela transformação acentuada na cadeia de abastecimento do aftermarket. Por exemplo, em 2016, o comércio eletrônico de peças era algo insignificante e talvez inimaginável devido à complexidade técnica dos produtos do setor. No entanto, este canal observou grandes investimentos e ano após ano foi se consolidando, até chegar aos atuais 10% do faturamento da reposição independente. O crescimento do digital foi importante não apenas para colaborar com o enfrentamento da pandemia, mas também para gerar e potencializar uma nova camada de prestadores de serviços e tecnologia dedicados ao setor no país, influenciando a tendência do conteúdo tecnológico nacional. Ao final, mesmo com grandes investimentos, as principais plataformas globais de e-commerce, marketplaces, catálogos e serviços não foram capazes de suprir as necessidades culturais e dramaticamente nacionais deste segmento. Em contrapartida, as companhias regionais se fortaleceram para atender de forma eficaz às necessidades dos agentes comerciais e das indústrias nacionais. Na contramão da nacionalização de serviços, a presença dos veículos e produtos de autopeças importados tem levantado grandes preocupações da indústria nacional que está se preparando com fortes investimentos para uma concorrência ainda mais intensa com os produtos e veículos importados.

O PRESENTE E O FUTURO PRÓXIMO

Neste contexto de retomada do crescimento e recuperação gradual da confiança, o Brasil atravessa um momento de entusiasmo, com grandes promessas de investimento tanto na produção de veículos e equipamentos originais quanto no aftermarket. As novas tecnologias disruptivas, como veículos elétricos, inteligência artificial e o metaverso, têm chamado a atenção dos tomadores de decisão do setor e certamente ganharão seus respectivos espaços no cotidiano dos profissionais e da população brasileira. O mercado será cada vez mais desafiado a lidar com o novo e o inesperado, aumentando a necessidade de atenção e abertura para as mudanças. Na indústria automobilística, por exemplo, a ascensão das marcas chinesas no mercado traz importantes questionamentos sobre o futuro da mobilidade no Brasil, especialmente considerando que, em um curto período, montadoras como a BYD e a GWM se consolidaram no mercado de veículos eletrificados, trazendo um dinamismo inesperado para a maioria dos agentes do setor. As empresas precisarão fortalecer incessantemente sua cultura e seus diferenciais estratégicos, introduzindo gradativamente um DNA cada vez mais digital e vencedor em seus profissionais.

Os investimentos em inovação, tecnologia, melhoria contínua e serviços estratégicos trarão mais dinamismo ao mercado e impulsionarão a qualificação e a presença de prestadores de serviços cada vez mais sofisticados, que auxiliarão significativamente no aumento da eficiência do ecossistema como um todo. Já é possível notar uma clara movimentação nesse sentido por parte das empresas de vanguarda do setor, tanto na indústria quanto no comércio, e esse caminho parece ser cada vez mais inevitável. Neste contexto, muitas dúvidas, incertezas, erros e acertos surgirão, e certamente poderemos contar com parceiros de longa data como a Nhm para registrar na história cada um desses momentos. Parabéns, Nhm e Novo Varejo pelos seus 30 anos! Nós certamente esperamos que esses sejam apenas os primeiros 30 de uma longa história de serviços e colaboração com o mercado de reposição brasileiro.

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