Lucas Torres
Como mostramos na matéria “Comércio digital ganha força e não-especialistas passam a ter mais participação na compra de autopeças“, cada vez mais clientes de oficinas assumem a responsabilidade na escolha e compra das peças a serem colocados em seus veículos. No entanto, tal comportamento tem incomodado muita gente.
Na análise de Leandro Ribeiro, fundador da Auto Partners,
um dos principais reflexos do aumento da disposição de não-especialistas em comprar autopeças online está no crescimento
do marketshare da categoria dentro do grupo de produtos
vendidos pelo Mercado Livre. Isso porque, se há cerca de cinco
anos as peças de automóveis correspondiam a uma fatia de 30%
de participação na plataforma, hoje elas correspondem a 50%!
De acordo com o especialista, porém, para se compreender
de maneira mais clara o impacto deste movimento na cadeia
automotiva, é imprescindível lançar um olhar fragmentado para
as subcategorias das autopeças no lugar de olhá-las como um
‘grande grupo uniforme’.
“Uma informação que a gente vem acompanhando diz respeito às subcategorias de autopeças. Verificamos, por exemplo, que
a categoria de motor é a mais vendida dentro do segmento
de carros e caminhonetes – algo que não acontecia antes
pela exigência técnica desta compra”, coloca Ribeiro, antes
de apontar uma causa para esta mudança. “Isto tem ocorrido
porque os canais vêm se aprimorando para ajudar quem vende
a publicar informações técnicas corretas e detalhadas, a fim de
auxiliar, de fato, o comprador – mesmo aquele não- especialista
– a encontrar a peça correta”.
Embora represente uma mudança significativa no histórico
do aftermarket nacional, o movimento descrito pelo ex-head
do Mercado Livre não causa surpresa na principal entidade
representativa dos reparadores do país.
Questionado por nossa reportagem sobre uma possível
diminuição do papel do empresário ou profissional reparador
como responsável pela compra da peça – e, consequentemente,
intermediário entre varejo e proprietários de automóveis –, o
presidente do Sindirepa Nacional, Antônio Fiola, reconheceu
que “este é um movimento que existe em razão do avanço do
comércio online. O consumidor deixa apenas de pesquisar
preços e começa a comprar”.
O líder do Sindirepa reconhece a tendência, porém, isso não
significa que a entidade a considere saudável para a cadeia
do aftermarket. Muito pelo contrário. Para Fiola, os impactos da
mudança vão desde perda de receita até atrasos na realização
do serviço por conta do produto não ser compatível com o
veículo, gerando a insatisfação do próprio cliente. “Por isso, fica
a critério de cada empresa aceitar ou não que o cliente leve a
peça. O importante é se resguardar dos possíveis problemas
que isso pode acarretar”, aponta o dirigente.
Em uma orientação direta aos reparadores, Fiola oferece ainda
uma espécie de ‘cartilha’ a ser seguida a fim de se prevenir
contra os impactos negativos de uma compra realizada por um
proprietário desprovido de conhecimento técnico.
Segundo ele, nestes casos, o reparador deve pedir para que
seu cliente assine uma declaração de que está ciente da
procedência da peça e que qualquer problema relacionado
ao produto é de responsabilidade do consumidor. Quando
isso acontece, o reparador oferece apenas a garantia da
execução do serviço.
“Vale dizer que, normalmente, quando o reparador compra a
peça, ele também fica responsável pela peça e pelo serviço”, conclui Antonio Fiola.