Claudio Milan [email protected]
A urgência para a criação de leis que regulamentem o acesso dos reparadores independentes às informações necessárias para o diagnóstico dos defeitos e a solução dos problemas nos veículos modernos é uma demanda global. Porém, a maturidade deste debate varia entre países e blocos. União Europeia e Estados Unidos estão mais adiantados nesta discussão e, por consequência, também mais munidos de conteúdos e fatos que respaldam a defesa das ações no âmbito do Right to Repair e do Right to Connect.
No quesito conteúdo, a entidade independente norte-americana Auto Care Association apresentou uma pesquisa consistente sobre os impactos que as restrições impostas pelas montadoras, a partir da evolução tecnológica, vêm trazendo à indústria de reparação. A ACA ouviu mais de 400 proprietários de oficinas e profissionais técnicos em todo o país. É claro que o estudo abrange o mercado dos Estados Unidos. No entanto, é absolutamente pertinente analisar os resultados com um olhar global.
Provavelmente os índices e números não seriam exatamente os mesmos, por exemplo, no mercado brasileiro. Mas, grosso modo, os problemas em si são ou seriam muito semelhantes. “Esta pesquisa lança uma nova luz sobre a realidade sombria enfrentada pelas 273.000 oficinas e 900.000 técnicos nos Estados Unidos se o Congresso não agir sobre a legislação federal de direito à reparação”, disse Bill Hanvey, presidente e CEO da Auto Care Association. “Sem mudanças, as oficinas de reparação locais serão obrigadas a recusar mais e mais negócios, deixando os proprietários de carros sem escolha a não ser pagar contas excessivas na concessionária”. O relatório da pesquisa avalia que as restrições de dados do veículo prejudicam desproporcionalmente pequenas empresas de reparação independentes, tornando mais difícil para elas oferecerem determinados serviços de reparação e peças aos seus clientes – o que pode deixar alguns proprietários de carros sem outra opção além da concessionária para certos reparos.
Essa tendência crescente é especialmente preocupante quando se considera que os consumidores preferem oficinas de reparação independentes a concessionárias para reparos de veículos, de acordo com pesquisa da Consumer Reports. Tudo isso está perfeitamente alinhado ao cenário brasileiro, o que naturalmente confirma a necessidade de sensibilizar nossos legisladores e governantes sobre a gravidade de uma questão que precisa ser enfrentada, sob pena de restringir o direto e a liberdade de escolha dos proprietários de veículos.
Principais constatações da pesquisa
84% das oficinas independentes veem o acesso aos dados de reparo e manutenção de veículos como o principal problema para seus negócios, superando outras questões importantes, como recrutamento e retenção de técnicos (73%) e inflação (68%).
63% das oficinas de reparação independentes enfrentam dificuldades para fazer reparos de rotina diariamente ou semanalmente.
Os problemas rotineiros incluem mensagens de erro do scanner ou do veículo (34%), restrições em ferramentas de reposição (33%) e mensagens recomendando “consultar a concessionária” do scanner ou do veículo (29%).
Metade das oficinas de reparação independentes (51%) relata enviar até 5 veículos por mês para a concessionária devido a restrições de dados do veículo, após esgotar as opções disponíveis.
45% encontram reparos que exigem ferramentas do fabricante de automóveis que são “muito caras” diariamente ou semanalmente.
As limitações de dados do veículo custam às oficinas de reparação independentes um total estimado de US$ 3,1 bilhões por ano.
