Dados divulgados pelo 1º Anuário Brasileiro da Mobilidade Elétrica mostram que em 2019 foram comercializados no país 11.205 veículos com estas tecnologias
Lucas Torres
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Pauta central nas discussões sobre o futuro da indústria da mobilidade, a evolução dos motores elétricos e a busca por dar escala mundial a esta tecnologia foi tema do 1º Anuário Brasileiro da Mobilidade Elétrica.
Lançado em 15 de março pela Plataforma Nacional responsável pela pauta, o documentou traz 180 páginas com informações voltas a oferecer um panorama geral do atual estágio da eletrificação nos principais centros urbanos e econômicos do mundo, bem como – é claro – dedicar uma atenção especial ao cenário observado no mercado brasileiro.
MUNDO
O documento destaca os dados organizados pela International Energy Agency (IEA) que apontou um crescimento de 2,6% nas vendas globais de automóveis elétricos no mundo de 2018 para 2019 – acréscimo que levou a frota global desses veículos ao total de 7,2 milhões de unidades. Ainda segundo dados da IEA, embora esteja concentrada majoritariamente na tríade composta por China, com 3,4 milhões de veículos; Europa, com 1,7 milhão; e Estados Unidos, com 1,5 milhão, essa frota de veículos elétricos já se dissemina, aos poucos, por cantos diversos do globo.
Ao menos 20 países tinham no mínimo 1% de marketshare para os carros elétricos em 2019 e ao menos nove deles alcançaram o número bruto de 100 mil veículos em suas frotas.
Embora ainda modestos se comparados à robustez da frota mundial de veículos leves, esse crescimento contínuo – somado à maneira com que a cultura da eletrificação tem se pulverizado para além dos centros tecnológicos – foi alvo de otimismo por parte do anuário produzido pela Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PMNE).
Citando fatores propulsores da pauta como a pressão exigida pela agenda climática, da saúde pública e a urgente melhoria da qualidade do ar – bem como das oportunidades de modelos de negócios propiciadas pela eletrificação –, o documento enfatiza que o outrora projetado cenário de ampliação do mercado de mobilidade elétrica já está, hoje, em pleno curso. “Até 2040, espera-se que 57% de todas as vendas de veículos e mais de 30% da frota global de veículos de passeio sejam elétricos”, cita o documento, a partir de dados levantados pela Bloomberg New Energy Finance.
Criar infraestrutura para recarga dos veículos é desafio em todo o mundo
Tão importante quanto produzir carros elétricos mais acessíveis às populações, inclusive aquelas de menor poder aquisitivo no cenário global, é a construção de uma infraestrutura capaz de operacionalizar um sistema viário dessa composição.
Neste contexto, o anuário, novamente se valendo de dados da IEA, informa que 862 mil novas instalações de carregadores para veículos de passageiros foram inaguradas no mundo ao longo de 2019, acréscimo que, somado à quantidade já existente, resultou um total de 7,3 milhões de unidades ao fim daquele ano.
“A maior parte destes são carregadores lentos ou semirrápidos, localizados em pontos domésticos ou em locais de trabalho. Globalmente, foram identificados cerca de 264 mil carregadores rápidos públicos”, aponta o anuário da PNME, antes de complementar com um dado relacionado à modalidade de transporte coletivo: “Acrescente-se a esta infraestrutura de recarga global os 184 mil carregadores rápidos utilizados principalmente para ônibus que estão, majoritariamente, localizados na China”.
O anuário não se limitou a analisar a frota de carros de passeio, passou também pelo modal de ônibus elétricos. Segundo o documento, essa categoria contou com uma expansão de 75 mil unidades em 2019, totalizando cerca de 513 mil veículos no globo.
Brasil tem posição favorável ao desenvolvimento da mobilidade sustentável
Modelos híbridos, como o Prius, respondem por mais de 80% da eletrificação dos automóveis no país
Antes de apresentar os números frios do atual estágio da eletrificação da frota brasileira, o anuário da PNME realizou um survey pelo atual cenário da mobilidade nacional.
Segundo o documento, o fato de o setor de mobilidade – e do automotivo especificamente – possuir protagonismo irrefutável no PIB nacional (22% em 2020), bem como, no espectro mundial, de figurarmos consistentemente entre os líderes de vendas anuais de veículos (6º em 2019), por si só já confere um caráter atrativo ao mercado brasileiro na corrida pela modernização da mobilidade.
Mais do que isso, no entanto, a fundação-sustentável estabelecida no país pelo avanço da utilização de biocombustíveis nos últimos anos faz do Brasil um caso singular em que um modelo híbrido entre eletricidade e etanol pode reduzir as barreiras iniciais de entrada e consolidação da nova tecnologia por aqui.
“Neste sistema, é possível aproveitar capacidades tecnológicas e produtivas existentes no país, relacionando as tecnologias do motor flex, movido a gasolina e etanol, com tecnologias do Powertrain elétrico. O esforço sinérgico que pode resultar desta alternativa combina as demandas de eletrificação com a base industrial instalada e consolidada do etanol” salienta o anuário.
Essa característica particular do mercado brasileiro já se reflete, aliás, na configuração da frota de carros elétricos leves e comerciais do país.
Dos 22.919 automóveis dotados de tecnologia elétrica no motor registrados por aqui, 82,9% são híbridos do tipo HEV, ou seja, aqueles modelos que possuem o sistema elétrico como um ‘auxiliar’ em situações de velocidades mais baixas e por distâncias mais curtas – como ocorre, por exemplo, no Toyota Prius, líder da categoria no Brasil.
Por outro lado, os carros elétricos ‘puros’, ou seja, aqueles que funcionam exclusivamente à bateria, somam por volta de 1.000 unidades em todo o território nacional, pouco menos de um terço de outra modalidade de híbrido, o PHEV (ou plug-in), que é capaz de rodar até 50km sem o auxílio do motor a combustão.
Embora, em números crus, nossa frota ainda indique que temos um longo caminho a ser percorrido até nos tornarmos players relevantes no cenário da eletrificação, resultados apresentados pelo segmento no ano de 2019 indicam que a onda do ‘carbono zero’ tem ganhado força significativa por aqui.
Somente naquele período, o Ministério da Infraestrutura registrou 11.205 automóveis de tecnologia elétrica vendidos nos no país, número que superou com larga vantagem a soma dos dois anos anteriores (em 2018 haviam sido vendidos 3.481; e, em 2017, 3.630).
De acordo com o Anuário da Mobilidade Elétrica, o crescimento da venda de carros de passeio com essa tecnologia tem conexão com movimentações governamentais que se refletem também no segmento de ônibus.
Segundo o documento, este mercado – que tem ganhado força a partir das licitações para operadores de frotas nas cidades e em projetos demonstrativos – já conta com 247 veículos em operação no Brasil, estando 217 deles concentrados na cidade de São Paulo.
A capital e o estado de São Paulo, aliás, se destacam em todo e qualquer enquadramento geográfico realizado dentro da pauta da eletrificação veicular. O estado concentra 32,9% do total de elétricos/híbridos do país e o município é, ao lado de Brasília, um dos dois únicos a contar com ao menos mil carros elétricos registrados em seu território.
A mobilidade elétrica no Brasil em números
- Frota de leves e comerciais
22.919 veículos
- Estado com maior concentração de elétricos
São Paulo, com 7.555, o equivalente a 32,9% do total
- Municípios com mais de mil carros elétricos
São Paulo: 4.041 veículos
Brasília: 1.086 veículos
- Ônibus elétricos em operação no Brasil
247 veículos
- Maior concentração de ônibus elétricos por município
São Paulo, com 217, o equivalente a 87,8% do total
- Pontos de recarga no território brasileiro
500
Fonte: 1º Anuário Brasileiro da Mobilidade Elétrica