A transição energética da mobilidade no Brasil – Uma análise sobre os possíveis impactos no pós-venda automotivo’ foi o tema da palestra do presidente do Conarem, José Arnaldo Laguna, no Seminário da Reposição Automotiva 2025, realizado em 7 de outubro na sede da Fiesp, em São Paulo. O assunto é mais do que pertinente pois, como dito por Claudio Sahad, presidente do Sindipeças no mesmo evento, a ‘descarbonização’ é a palavra mais ouvida nas indústrias de autopeças. E, claro, transformações profundas acabam impactando, lá na frente, o mercado de reposição. Em sua palestra, Laguna falou em nome do Instituto MBCB – Mobilidade Baixo Carbono, entidade que promove soluções concretas para a descarbonização da mobilidade no Brasil, respeitando a neutralidade tecnológica e impulsionando as tecnologias da bioeletricidade. De acordo com dado apresentado no evento, 91% das emissões estão centralizadas no transporte rodoviário. “Esse quadro mostra a importância de descarbonizar a frota circulante. O que o MBCB vem fazendo? Vem tentando conscientizar sobre as vantagens comparativas do Brasil, que é completamente diferente do resto do mundo em termos de geração de energia e, principalmente, em termos biocombustíveis. Precisamos defender uma descarbonização viável, proteger o parque industrial, gerar empregos e renda”, defendeu o palestrante.
Laguna contou que há dois anos o instituo apresentou ao Governo Federal um estudo detalhado sobre o impacto da eletrificação da frota brasileira, destacando a queda na arrecadação e o fechamento de muitas empresas. “Como nós temos combustíveis, é possível fazer a descarbonização aproveitando as empresas constituídas, gerando mais empregos e mantendo uma boa arrecadação. Precisamos garantir essa segurança energética no Brasil – e isso tem que partir daqui, nós precisamos influenciar as políticas públicas”.
Com essa receita caseira, os custos da descarbonização para o país se reduziriam. “É necessário aumentar a porcentagem docombustível renovável na gasolina e no diesel. Aqui vale a pena ressaltar que toda vez que se aumenta o etanol na gasolina são feitos profundos estudos, bastante respeitáveis. A gente vê influenciadores falando na internet que isso é um absurdo, que vai trazer prejuízo, vai estragar os veículos, mas tudo tem uma segurança muito grande por trás”, garantiu. Também é fundamental aumentar a presença do etanol em uso nos veículos flex, para de fato aproveitar todo o potencial desta tecnologia consagrada no mercado brasileiro há décadas. “Hoje 37% dos veículos flex usam o etanol no Brasil. É um combustível mais barato. Se comprarmos um combustível com qualidade, não teremos problema na manutenção dos veículos. É uma questão de conscientização do brasileiro. Precisamos substituir o combustível fóssil pelo etanol e o biodiesel”. Investimentos Para efeito de descarbonização, as medidas apontadas por Laguna são particularmente importantes considerando o crescimento projetado da frota brasileira que, segundo dados apresentados no seminário, deve chegar a 67 milhões de veículos em 2040. Mas é fundamental, além da conscientização da sociedade, que os investimentos acompanhem a expansão das demandas. “Investimentos públicos, privados e infraestrutura. Esse talvez seja o maior desafio. O metano, o gás, o biodiesel, o hidrogênio, e agora nós estamos fazendo o álcool de segunda geração, a partir do bagaço. Já existe tecnologia para fazer hidrogênio da cana-de-açúcar. Nós temos muita tecnologia no Brasil”, pontuou Laguna, acrescentando que caberá aos players do setor automotivo promoverem aproximações junto ao governo para buscar as soluções necessárias.
Quanto à eletrificação da frota, o palestrante tranquilizou o Aftermarket Automotivo lembrando que o parque circulante de veículos equipados com motores a combustão vai crescer nos próximos anos. Até porque, como ponderou Claudio Sahad na exposição anterior, a infraestrutura determinará o tamanho da participação dos carros 100% elétricos no mercado. “Nós temos hoje nós 15 mil postos de recarga de veículos elétricos e vamos precisar de 500 mil a 700 mil no Brasil. Quem vai financiar? Quem vai investir nesses postos? Esse é um número gigantesco, um investimento enorme, que a gente acredita que vai ser bastante complexo. Em relação à energia, temos hoje uma produção de 620 terawatts ao ano, nós vamos precisar de mais 380, portanto, um crescimento de 61% até 2040”. Nós vamos precisar desenvolver com o hidrogênio 400 mil toneladas ao ano, isso ainda não se tem produção no Brasil.
Se há necessidade de expandir a rede de recarga dos veículos, contar com o etanol para mover nossa frota de veículos híbridos também não será um processo automático. Há, sim, necessidade de investir em produção. “Produzimos hoje 27 bilhões de litros ao ano. Vamos ter que chegar a 50 bilhões em 2040”, finalizou José Arnaldo Laguna.
Elétricos e Right to Repair
O Senai já desenvolveu um curso para formar reparadores qualificados para a manutenção de veículos elétricos, uma demanda que inevitavelmente vai chegar às oficinas. Em sua apresentação, José Arnaldo Laguna também relacionou os serviços à urgência da aprovação do Right to Repair, já que os elétricos são carros extremamente conectados. “Uma montadora lá da Alemanha, por exemplo, se conecta com o seu automóvel aqui e resolve um defeito simplesmente pedindo que você faça alguns procedimentos com o painel ali. Então, nós vamos precisar ter algumas mudanças, uma delas a gente vem trabalhando, que é a lei Ferrari, é preciso modernizar o relacionamento das montadoras/concessionárias com o reconhecimento ao mercado de reparação. Temos que ter acesso às informações técnicas para que a gente possa atender o direito do consumidor. Como vamos nos preparar, capacitar nossos mecânicos e fazer o acesso a essa nova tecnologia? Nós precisamos de uma legislação mais moderna que permita que a montadora libere informação técnica para todos os reparadores, garantindo o ao consumidor o direito de escolher onde ele quer consertar o carro”.




