Amor ao automobilismo e ao cuidado com os veículos garantiu à Losacco o lugar de oficina mecânica mais antiga em funcionamento na América do Sul
Christiane Benassi
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Prestes a completar 100 anos, a Losacco Officina Mechanica ocupa lugar de destaque no Guinness. Na edição de 2010 do livro de recordes mundiais, a empresa de reparação automotiva fundada em 1925 por Fellipo e Nicola, pai e filho, é descrita como a mais antiga em funcionamento da América do Sul. Ao longo de tantas décadas, a família Losacco acompanhou a evolução tecnológica dos automóveis e participou dos mais importantes eventos automobilísticos do País.
Responsável por gerenciar os negócios da família tanto na empresa quanto nas pistas, Vinícius Losacco, neto de Fellipo, é um exemplo de que a paixão por carros está nos genes da família de origem italiana. “Acredito ser o amor pela profissão o segredo da longevidade do nosso negócio. Eu costumo dizer que meu oxigênio é a gasolina”, conta.
Além de prestar assessoria para a equipe Piquet Sport na categoria Stock Car, Vinícius administra a oficina da família, desde agendamento de serviços a gestão de estoques, compras e relacionamento com o cliente. “Por 44 anos, minha mãe, Felícia, cuidou de todos os assuntos burocráticos, possibilitando minhas pesquisas e viagens para competição. Após 2018, assumi o controle da gestão e organização da empresa”, revela o empresário, que não compete mais profissionalmente, mas se lembra com orgulho, da sua história no automobilismo. “Meus carros sempre estiveram no Top 5 das pistas”.
ESPECIALIZAÇÃO
Atualmente, a oficina, instalada no bairro paulistano Butantã, é especializada em motor e preparação eletrônica, além de ser a representante exclusiva no Brasil da marca inglesa SuperChips, que eleva a potência dos motores nos veículos blindados.
Vinícius sempre investiu na atualização e na busca por soluções de serviços e atendimento mais competitivos, posicionando a oficina sempre a um passo à frente dos concorrentes. “Ao lado da qualidade de nossa equipe e serviços prestados, vejo que um diferencial importante é nossa relação muito próxima com o cliente. Costumo, depois de alguns dias da entrega do veículo, entrar em contato com o proprietário do auto para saber se o serviço ficou bom”, revela.
Faltando quatro anos para completar um século de história, a Losacco Officina Mechanica, tem se organizado para enfrentar um dos momentos mais difíceis da sua trajetória – a crise sanitária provocada pela covid-19. “Estamos lutando para manter a empresa, reinventando processos, serviços e nos adequando à nova realidade. O orgulho que tenho do legado da minha família me impulsiona”, completa.
Um pouco de História
Em 1925, a paixão por automóveis motivou Fellipo e seu filho Nicola a montarem uma oficina mecânica especializada em motor e preparação de veículos para competições esportivas. Na época, ocupava um endereço na rua Ribeiro de Lima, no bairro do Bom Retiro, e crescia junto com o automobilismo paulistano.
Na década de 40, o pai de Vinícius Losacco e seu irmão Felipe, além do mecânico e preparador de veículos Victor, assumiram a oficina, onde passaram a fabricar o sistema a gosogênio para suprir a falta de gasolina causada pela Segunda Guerra Mundial.
Depois, Victor transformou a empresa em oficina autorizada Vemag, a fabricante dos carros DKW. No entanto, o mecânico faleceu em 1961 num acidente durante a prova “500 Quilômetros de Interlagos”.
Em 1970, Vinícius começou a participar das competições automobilísticas e contou com a ajuda da mãe, dona Felícia, na administração da oficina. Além da carreira nas pistas, investiu na especialização técnica em cursos na Itália e Inglaterra.
Entre as pistas e a oficina
A trajetória dos Losacco é marcada pela preparação de carros, seja dos clientes ou para competições automobilísticas, cuja história se confunde com a do sobrenome da família. Nas primeiras provas realizadas na Avenida Paulista ainda nas décadas iniciais do século passado, eles já estavam lá. Três tios de Vinícius e ele próprio sempre se dividiram entre as pistas e a oficina.
O único membro da família que não teve passagem na oficina é Giuliano, filho de Vinícius. Bicampeão da categoria Stock Car, embora não tenha seguido os passos dos antepassados na reparação, coleciona vitórias no automobilismo.
Além de Vinicius, pai de Giuliano, que foi campeão em várias mobilidades até 1981, seu tio-avô, Nicola, também se destacou nas competições e bateu o recorde de Interlagos, em 1960, correndo com um chassis Ferrari equipado com motor Corvette V8. A marca só foi superada dez anos depois pelos irmãos Fittipaldi, com um protótipo Fitti-Porsche. Mas antes do circuito de Interlagos ser criado, era na Avenida Paulista, atual centro financeiro do País, que Nicola corria com seu Hudson.
Já o avô de Giuliano, Victor, dividia as competições automobilísticas com a parte mecânica na criação de novos modelos. Em 1954, entrou para a História com a apresentação de seu Lancia, em um concurso de carros durante as comemorações do 4º Centenário da cidade de São Paulo, no Parque do Ibirapuera.