Transição do automóvel de produto para serviço já está acontecendo e exigirá atenção em todos os elos do setor
Claudio Milan
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Uma série de tendências vai exigir atenção e ação dos estrategistas do Aftermarket Automotivo. Algumas já estão se concretizado – uma das principais é o envelhecimento da frota. “O fator determinante da nossa modelagem é o perfil da frota, a gente vê um envelhecimento conforme a queda nas vendas de 0 km acontece. Isso ocorreu em 2020. Veículos com mais de 12 anos eram um terço da frota. No pós-pandemia, o índice vai chegar a 45% da frota como um todo e resultará em consumo de peças e serviços. Isso reflete nosso entendimento sobre o dinamismo do setor”, pontou Roberto Fantoni, sócio sênior da McKinsey em sua apresentação no 2º Encontro da Indústria de Autopeças realizado em 5 de abril pelo Sindipeças.
Há, no entanto, uma tendência que vem gradativamente desafiando o mercado de reposição dado o impacto que vai gerar no dia a dia das empresas: a expansão das frotas. A transição do automóvel de produto a serviço é um fenômeno em curso e as próprias montadoras vêm buscando adequação a essa nova rotina – hoje a maioria já oferece serviços abrangentes de assinatura de veículos.
No aftermarket, os desafios não serão menores. “No Brasil muito rapidamente estamos vemos não um indivíduo negociando a compra do veículo, mas sim as frotas. Elas conseguem se financiar e gerir a manutenção e o seguro de forma muito mais racional que um indivíduo. E, finalmente, fazem a alocação de maneira mais inteligente: quanto mais usa o veículo, melhor. Dados mostram que um automóvel passa, em média, 96% do tempo estacionado no local de origem. Em menos de 4% ele de fato está sendo usado. Se você consegue usar os 96% para alguma coisa produtiva é uma fonte de valor enorme”, ilustrou Roberto Fantoni.
O executivo da McKinsey lembrou ainda que a tendência abrange desde as frotas corporativas até aquelas que alugam veículos para os motoristas de aplicativos. “Quanto mais a gente se aproximar da total autonomia dos carros, mais veremos esses parques numa parcela relevante da compra de carros no país”.
E isso muda tudo para o mercado de reposição. Frotistas geralmente utilizam carros ainda no período de garantia. Ou trabalham com pacotes de manutenção. O mercado precisa acompanhar muito de perto os desdobramentos desta tendência na prática.
Pandemia acelerou digitalização, mas tendência já era irreversível
Não é novidade que a pandemia promoveu extraordinária aceleração digital não apenas no mercado de reposição, mas no setor automotivo como um todo. “Curiosamente, a indústria automobilística foi uma das últimas a utilizar essas ferramentas, que são amplamente usadas em outros setores”, avaliou Roberto Fantoni ao apresentar no evento do Sindipeças o estudo da McKinsey.
Se para boa parte do mercado é fácil perceber a expansão do comércio eletrônico de componentes automotivos, há um fator mais complexo que nem todos enxergam à primeira vista: o uso de ferramentas digitais e de análise avançada, que vem ocorrendo em outros setores e representa uma grande oportunidade também no Aftermarket Automotivo.
Isso se dará a partir dos veículos conectados. “A conexão dos veículos abre oportunidades dos dois lados: os fabricantes de autopeças poderão entender melhor o uso dos componentes e suas falhas, incorporando dados do uso na prática, em condições adversas, tempo bom, tempo ruim. A outra oportunidade, um pouco mais adiante, é oferecer produtos e serviços em tempo real, antecipar as necessidades do cliente com base nas informações recebidas do veículo”, propôs Roberto Fantoni.